sábado, 5 de julho de 2008


sinopse
Após a interpretação, por Fernanda Lapa, do ensaio de Walter Benjamin "Desempacotando a Minha Biblioteca", o espectáculo desenvolve-se como viagem pelo conteúdo dos livros de uma biblioteca. As várias tentativas, invariavelmente frustadas, de passar o conteúdo dos livros para a cena são organizadas em 5 ciclos: navio, drama, as 1001 garrafas, líquenes e, por fim, a apresentação de uma natureza morta.


textos Walter Benjamin (tradução de João Barrento) e Miguel Rocha (a partir de textos de vários autores) direcção Jorge Andrade com Anabela Almeida, Catarina Requeijo, Cláudia Gaiolas, Fernanda Lapa, Fernando Santos, Rita Seguro, Simão Cayatte, Tónan Quito e Medeia cenografia, figurinos e cartaz José Capela luz João d’Almeida vídeo António Gonçalves selecção musical Isabel Novais sonoplastia Sérgio Delgado produção executiva Eva Nunes projecto financiado por Ministério da Cultura - Instituto das Artes em co-produção com Fundação Calouste Gulbenkian e Galeria Zé dos Bois apresentações Lisboa

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O espectáculo resultou de uma encomenda no âmbito do fórum O Estado do Mundo, integrado nas comemorações do 50º aniversário da Fundação Calouste Gulbenkian.
“Desempacotando a minha biblioteca” é o título de um ensaio de Walter Benjamin sobre a relação do coleccionador com os seus livros. No espectáculo, o ensaio sobre os livros na sua condição de exemplares, de objectos, interpretado como monólogo, serve de introdução a uma deriva pelo conteúdo de livros variados de uma biblioteca. Apesar do seu carácter sobretudo fragmentário, o espectáculo é organizado em 5 ciclos temáticos, ou 5 tentativas de transpor o texto para a cena. Assim, começando por um playback de “los mejores años de nuestra vida” e acabando com uma natureza morta, sucedem-se os seguintes ciclos:

Em navio, a intriga burguesa sintetizada na relação entre alguns dos viajantes de um navio torna-se progressivamente absurda até culminar na descrição de um vomitório colectivo e no afundamento do próprio barco. As personagens despem-se.






Drama é um ciclo de declarações de amor, umas pueris, outras trágicas. Termina com um texto de Roland Barthes sobre as limitações comunicativas da locução “eu amo-te!” (“dizer eu amo-te é fazer como se não existisse qualquer teatro da palavra”) e com a retirada dos animais embalsamados que serviram de fundo às cenas de amor, por dois personagens: um príncipe, que os mata com uma espingarda; uma princesa, que os recolhe cuidadosamente.




As 1001 garrafas é um ciclo onde se reúnem várias situações: um velório cumprido por um grupo de mulheres progressivamente embriagadas, diálogos de escárnio sexual, declarações de um homem-invisível, uma cena de ópera da qual todos acabam por alhear-se, a aplaudida morte da protagonista da ópera e, por fim, uma animação de feira popular que culmina na dissolução das personagens.



As personagens não regressam. Num ciclo intitulado líquenes, os actores com os figurinos despidos cumprem o papel de locutores de descrições de cenas sem acção - como pinturas, gravuras ou fotografias - e, no final, sem personagens. Este ciclo encerra-se com uma exaustiva e longa descrição dos produtos de uma despensa.


O espectáculo termina com a apresentação de uma natureza morta.


O espectáculo oscila entre, por um lado, a experiência pouco ideológica de uma espécie de “puro teatro” baseado na possibilidade genérica de passagem do conteúdo dos livros para a cena e, por outro, o subsequente abandono ideológico dessa experiência, repetidamente consumado ao longo do espectáculo.

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